Plataformas na Quarta Arte: Como o TikTok dita a música atual?
- Lucas Santos
- 14 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 26 de jun.
A música vem sendo um retrato do tempo em que ela é produzida. Seja com a contracultura dos anos 60 e 70; a rebeldia dos anos 80; a globalização começando nos anos 90 e o nascimento da era digital nos anos 2000. Hoje, a sociedade é marcada pelas novas tecnologias e, principalmente, pelas plataformas digitais.
Mas, saindo do senso comum, o que são as plataformas? Na visão de Thomas Poell, David Nieborg e José van Dijck, autores do artigo “Plataformização”, elas são “infraestruturas digitais (re) programáveis que facilitam e moldam interações personalizadas entre usuários finais e complementadores, organizadas por meio de coleta sistemática, processamento algorítmico, monetização e circulação de dados”. O processo de molde das plataformas, causado pelos seus algoritmos afeta drasticamente a música atual, graças, principalmente, aos aplicativos de “tela infinita”, tendo como maior exemplo, o TikTok.
Esse modelo de plataforma dá preferência para vídeos mais curtos, variando de 15 segundos até 3 minutos, em média. A partir de 2020, quando o TikTok começou a se colocar como uma das maiores redes sociais do mundo, era comum ver vídeos das chamadas dancinhas, vídeos com coreografias simples e duração média de 15 a 30 segundos. Grandes sucessos daquele ano como Say So (Doja Cat); No Idea (Don Toliver); For The Night (Pop Smoke) e WAP (Cardi B) tomaram o cenário global com essa fórmula de trechos curtos que geraram coreografias simples – muitas delas com os mesmos passos de dança. Porém, a tendência pelas dancinhas já não dura até hoje, por conta de uma diretriz do TikTok em não monetizar mais os vídeos com menos de um minuto de duração. Mas se engana quem pensa que a influência da plataforma acaba aí.

Por conta da alta dopamina que o uso destas redes sociais libera no cérebro do usuário, as pessoas mais jovens vêm relatando uma grande dificuldade em prestar atenção em conteúdos que durem mais tempo, como filmes, por exemplo, em um fenômeno chamado de “brain-rot”. Esse cenário é visível na música atual ao abrir o Top 10 de músicas mais ouvidas no Spotify brasileiro. Da lista, apenas uma música passa de 3 minutos e meio. E a música em questão tem 7 minutos e, curiosamente, 7 artistas cantando. Logo, versos curtos e entrega rápida de novidade, seguindo a linha das outras obras da lista.
Tal situação no cenário musical reflete, como dito lá no primeiro parágrafo, os tempos atuais. Reflete a sociedade de plataformas. Para o professor André Lemos, em seu artigo “O futuro da sociedade de plataformas no Brasil”, um dos conceitos para definir a plataformização é “ascensão da plataforma como o modelo infraestrutural e econômico dominante da web social e as consequências da expansão das plataformas de mídia social em outros espaços online”. Ou seja, no mundo atual, as plataformas ditam as bases materiais do mundo digital, a exemplo das tendências musicais e da forma com que se faz música hoje, e os impactos gerados por este processo.
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