Até que ponto você está disposto a abrir mão de sua privacidade em troca de conveniência e entretenimento?
- tecnosomcom104
- 9 de jul.
- 2 min de leitura
Em 2003 a banda Pitty lançava a música e o vídeoclipe de “Admirável chip novo” onde tece em ambas as mídias uma crítica à sociedade que estava se tornando cada vez mais dependente da tecnologia, quase como se estivéssemos todos conectados a um "chip" que controla nossas ações e pensamentos, refletindo uma perda de autonomia nas nossas ações mais cotidianas. Essa idéia de um "chip" admirável pode ser vista como uma metáfora para a tecnologia que, embora pareça inovadora e útil, também pode ser usada para manipular e monitorar as pessoas.
Naquela época não existiam plataformas de streaming da mesma forma como conhecemos atualmente, ainda assim ,para ilustrar, citaremos a RealNetworks, empresa que em 2003, com o RealAudio, era uma das principais opções para “streaming” de músicas. Atualmente a empresa foca sua atuação na criação de “casual games” que fazem algum sucesso com os usuários sob o pretexto da “gratuidade” de seus serviços, mas que na realidade servem principalmente para tragar os dados dos jogadores por meio daquelas infinitas permissões que, na maioria dos casos, aceitamos sem ler uma linha sequer.

De “admirável chip novo” em 2003 para o cenário atual mais de 20 anos se passaram e, obviamente, a forma de consumir mídia se transformou, se no passado utilizávamos os serviços da RealNetworks ou do Napster para consumir músicas, hoje em dia temos Spotify, Deezer, Tidal, dentre outros, mas você já parou pra pensar em como essas empresas utilizam nossos dados?
O funcionamento dos algoritmos de recomendação está ligado à produção de relevância, uma vez que, ao participar da relação entre dados e usuários, esses sistemas interferem na construção de conhecimentos e preferências culturais (Morris, 2015 apud. Moschetta e Vieira, 2018). De acordo com o Artigo de André Lemos “Privacidade e Infopoder” a partir do trabalho de Colin Koopman, sustenta a hipótese de que a formatação dos dados constitui uma “pessoa informacional” (informational person), apontando que não são os dados que são pessoais, mas as pessoas que, pragmaticamente, são produzidas por eles.
Esse poder de formatação das pessoas pelos dados é chamado de Infopoder e, partindo desta afirmação, podemos entender que uma vez logado e “ligado” ao Spotify não estamos apenas usufruindo de uma experiência musical, mas estamos sendo tratados como personas previsíveis por meio da manipulação dos nossos dados de consumo e que ofertamos de forma consciente à espera de obter novas experiências previstas antecipadamente pela plataforma que nos molda de forma sutil, fazendo com que acreditemos que estamos no controle das “descobertas” e sugestões encontradas na plataforma, mesmo que isso custe a nossa privacidade e a segurança dos dados que (in)voluntariamente entregamos.
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