Da flauta à guitarra: a música no decorrer das transformações das sociedades humanas e o aperfeiçoamento do seu código
- Flávio de Santana
- 14 de abr.
- 3 min de leitura
Desde seu princípio a espécie humana se mostra um animal social por natureza. As relações construídas serviram e servem não apenas como meio de perpetuar a espécie mas também auxiliam na organização social dos grupos de acordo com seus fatores em comum, sejam eles étnicos, linguísticos, biológicos e etc. Dentre esses fatores algo crucial para o ser humano são os meios comunicacionais que ele utiliza, sendo um deles a música.
Olhando para o passado, o homo sapiens, percebendo a natureza ao seu redor, foi capaz de reproduzir os sons que escutava em seu cotidiano, sons de animais, do ambiente, do vento, do mar, dos rios e etc. Por meio desse mimetismo nasceram as primeiras noções musicais, se assim podemos chamá-las.
No princípio a “música” não passava de vocalizações primitivas ou sons produzidos com objetos que eles podiam encontrar ao seu redor com o intuito de expressar sentimentos, emoções ou até mesmo celebrar rituais, mas lhes faltava algo crucial para a evolução humana, o domínio da técnica.

De acordo com André Lemos no primeiro capítulo do seu livro “Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea” a palavra “técnica” vem do grego Tekhnè, que por sua vez significa arte, mas não o simples conceito de arte que estamos acostumados e sim a arte que compreende o conjuto de atividades práticas relacionadas a áreas diversas, seja a habilidade de elaboração das leis, a habilidade pra contar e medir, a habilidade das artes plásticas ou das belas artes.
“Tekhnè é um conceito filosófico que visa descrever as artes práticas, o saber fazer humano em oposição a outro conceito-chave, a physis, ou o princípio de geração das coisas naturais.”
De acordo com o autor, tekhnè e physis fazem parte do que os gregos entendem como poièsis, está representando todo o processo de criação de algo novo, sendo a physis autopoietica por ser e representar tudo que é natural e possuir a habilidade de produzir em si mesmo transformações.
Quando o ser humano passa a dominar a técnica e começa a deter o conhecimento para criar novas ferramentas para auxiliar o seu cotidiano, ou assim se acreditava, inicia-se um novo momento dentro da história natural das sociedades. Se antes o homem utilizava pedras como instrumentos, e soltavam sons pouco codificados apenas pela boca na tentativa de se comunicar agora eles produzem baquetas e flautas com ossos de animais, passam a reconhecer padrões sonoros que antecedem nossas noções de notas musicais e passam a utilizá-los mais ainda no seu cotidiano ainda para comunicação mas também no ponto de vista contemplativo.
Muito se fala em como o desenvolvimento das linguas permitiu que as sociedades humanas avançassem, mas assim como elas, a música tinha um papel muito importante quando dentro das crenças e culturas que esses grupos detinham. Se as palavras utilizadas nas conversas do dia a dia carregam significados que são previamente ensinados àqueles que aprendem o código (língua) a música por sua vez trará um novo nível de sentido de acordo à forma em que é construída, se apenas cantada ou utilizando instrumentos musicais, de acordo com sua tonalidade, seu arranjo, além de outros aspectos estéticos e culturais que distingue a música de diferentes culturas ou locais do mundo.
No decorrer do avanço das sociedades modernas o aperfeiçoamento da técnica possibilitou ao ser humano evoluir em seus meios de se expressar por meio da música. Instrumentos foram criados, reinventados, práticas culturais se perderam ou se transformaram e o ser humano segue se aperfeiçoando demonstrando a capacidade de adaptação que sua criação tem.
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